quarta-feira, 5 de julho de 2017

[10° Encontro da Turma de Promotoras Legais Populares da Ceilândia. Tema do dia: Racismo + mercado de trabalho]


Tivemos nossa décima oficina, dando continuidade ao foco na mulher negra e aqui está o relatório, feito por Larissa Santos, a respeito do que aconteceu!

[24/06]

Relatório do encontro ocorrido no curso das Promotoras Legais Populares, encontro do dia 24 de Julho.
​Antes de começarmos nossas atividades fizemos um aquecimento, praticamos a dinâmica do espelho, formamos duplas em que uma fazia o movimento e a outra imitava e depois isso se invertia.​Depois voltamos para nossos lugares e as facilitadoras nos dividiram em três grupos e entregaram uma folha que continha fotos de pesquisas feitas no google sobre duas perspectivas, por exemplo, “cabelos bonitos X cabelos feios”, “dread bonito X dread feio”, “turbante bonito X turbante feio”. Mostraram-nos as imagens referentes a cada termo pesquisado e deram um tempo para pensarmos sobre os resultados dessas pesquisas. Meu grupo ficou com as imagens sobre o cabelo bonito e feio, conseguimos perceber que nas imagens com cabelos denominados como bonitos parecia que era a mesma pessoa em todas as fotos: mulheres brancas, magras, com cabelo longo e liso ou com leves ondulações. Obviamente, nota-se a padronização exigente que qualifica essas características como “bonitas” e que são socialmente aceitas.
​Por outro lado, havia a pesquisa sobre o cabelo feio e de 10 fotos oito eram de pessoas negras com cabelos crespos e as outras duas eram pessoas brancas que tinham cortes de cabelos que fugiam do que é padronizado e qualificado como bonito. A partir dessas constatações feitas em grupo, puderam-se tirar várias críticas. Primeiro, que existe uma questão racial muito evidente entre o que é bonito e o que é feio, isso também repercute nas outras pesquisas independente da característica. O que é visto como mais bonito sempre é algo que está caracterizando uma pessoa branca.
​Em seguida, conseguimos observar que mesmo quando algo é aceito como bonito existe uma hierarquização sobre o que é “mais bonito”, por exemplo, atualmente os cabelos enrolados estão sendo mais aceito socialmente, mas existem estilos de cachos que são mais aceitos que outros e, ironicamente, os cachos mais soltos que se assemelham aos cachos lisos são os mais aceitos.
​Quando abrirmos as discussões sobre as percepções que cada grupo teve em relação às imagens, a roda toda passou a discutir bastante sobre a questão das pessoas se identificarem como negras ou brancas. Umas das instruções das facilitadoras foram para que pensássemos sobre qual das imagens a gente se identificava mais e muitas tiveram dificuldade.
​Foi pontuado na roda que essa dificuldade vem de uma contextualização histórica de uma miscigenação forçada que o Brasil teve durante sua colonização, negras e nativas eram estupradas pelos colonizadores brancos e a partir disso foi surgindo vários tons de pele, gerando a diversidade brasileira. Essa diversidade, para mim, se tornou uma identidade brasileira, mas isso causa certa confusão sobre se enquadrar em determinada categorização entre negros e brancos e isso é importante pelo fato de sabermos reconhecer os privilégios que pode possuir por ter determinada cor.
​Algumas mulheres deram a opinião de que um marcador importante na hora de refletir sobre essa identificação é perceber se você sofre preconceito devido a sua cor, reparar em quem sofre preconceito racial e quem não sofre, quem é excluído, quem já foi abordada pela polícia apenas por ser negra. Durante essa discussão uma mulher negra que participava da roda nos chamou atenção para o fato das mulheres negras quase não estarem dando opiniões, a fala estava se concentrando nas meninas brancas, mais um reflexo inconsciente dessa questão racial. Depois fomos para o lanche.
​Na segunda parte fomos novamente dividias em grupo e nos entregaram 3 palavras: “cor de pele” ,” cabelo ruim”, “doméstica”, “serviço de preto”, “inveja preta e inveja branca”. Voltamos a falar o quanto o racismo está enraizado na nossa cultura, nas expressões que usamos e salientamos para o quanto é necessário buscarmos reconhecer nossos privilégios e entendermos como o racismo funciona e suas consequências, o racismo mata muitas negras e negros.
​As mulheres negras da roda falaram sobre a questão da solidão da mulher negra, que está relacionado com a dificuldade de uma mulher negra se relacionar devido aos vários estereótipos que foram impostos e socialmente naturalizados sobre uma supersexualização. Para melhor dizer, é aquele pensamento ridículo que vários homens têm de que mulheres negras foram feitas para fazer sexo e não para casar ou terem um relacionamento estável.

Larissa Santos




Quer saber mais? Se liga aí!


  1. Artigo de Kimberlé Crenshaw. "A Interseccionalidade na Discriminação de Raça e Gênero". Fonte: Blog da disciplina Direito, Relações Raciais e Diáspora Africana. Link: https://drive.google.com/drive/folders/0B7WBTTitwx7jTU9TNkd6c09ZS0k
  2. Artigos de Beatriz Nascimento “É tempo de falarmos de nós mesmos”. Fonte: Blog da disciplina Direito, Relações Raciais e Diáspora Africana. Link: https://drive.google.com/drive/folders/0B7WBTTitwx7jTU9TNkd6c09ZS0k
  3. Mini-Doc da Neggata “Ah, Branco! Dá um tempo! Construindo espaços. Link: https://www.youtube.com/watch?v=CykGViSzDbk
  4. Música de Elza Soares “A carne”. Link: https://www.youtube.com/watch?v=Lkph6yK6rb4


Veja também a relatoria do nosso 9º encontro.


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